27 de dezembro de 2007

Tempos de renovação

Num texto que postei aqui em junho, Ignorância resumida, falei brevemente sobre a necessidade que eu tinha de elaborar, num futuro próximo, um roteiro de estudos, a fim de dar conta da imensa quantidade e diversidade de assuntos que sinto necessidade de estudar mais profundamente do que fiz até o momento, ou mesmo começar do zero. De lá pra cá trabalhei um pouco nisso e, agora que um novo ano vem chegando, embora não seja meu objetivo expor meu plano em detalhes, creio ser útil comentar brevemente alguns aspectos do mesmo. Minhas razões para isso ficarão mais claras adiante, mas posso adiantar que este blog, sendo, como expliquei na postagem inaugural, uma parte importante dos meus projetos de aprendizado, será também diretamente afetado pela implementação desse plano.

Vale lembrar, para início de conversa, que a lista de livros que pretendo ler antes de morrer jamais parou de crescer desde que dei início a ela, mais de quatro anos atrás. Em janeiro deste ano, conforme registrei no início do post Versos do além, a lista contava com pouco mais de duzentos e cinqüenta elementos. Atualmente possui trezentos e trinta. Minha primeira tarefa foi, portanto, colocar ordem nessa lista. Dividi-a em vinte e três temas principais, que não abrangem todos os livros, mas ao menos deixam de fora uma fração relativamente pequena. Não sei se ao longo de 2008 eu conseguirei ler alguma dessas categorias em sua totalidade, mas pretendo ao menos dar início à liquidação de meia dúzia delas. As outras dezessete ficarão para um futuro indefinido, juntamente com várias obras que não se encaixam em categoria alguma, e com as quais eu montei a vigésima quarta categoria, "outros assuntos". Além disso, consultando a lista dos livros que já li, incluí sessenta e quatro deles na lista dos que ainda precisam ser relidos, e alguns mais de uma vez (a Bíblia, por exemplo, jamais sairá dessa lista). Selecionei catorze deles para reler em 2008, por se relacionarem a algum dos seis temas acima citados, e deixei os outros cinqüenta para um futuro mais distante.

Porém, foi-se o tempo em que praticamente tudo o que eu queria saber podia ser encontrado nas estantes da livraria ou biblioteca mais próxima, ou em e-books baixados da internet e estocados no meu HD. Atualmente, uma parcela considerável dos conhecimentos que pretendo adquirir encontra-se, total ou parcialmente, em filmes, em documentários, em artigos, em textos menores de revistas, nas cabeças de pessoas que pretendo entrevistar e, sobretudo, em sites da internet. Fiz também uma lista desses assuntos, isto é, aqueles dos quais provavelmente aprenderei total ou predominantemente por meios não-livrescos, e essa lista contém, até o momento, cinqüenta e nove temas, alguns dos quais sendo passíveis de uma quantidade considerável de subdivisões. Vários deles parecem ser menos trabalhosos que a leitura de um punhado de livros, mas alguns provavelmente exigirão esforço equivalente ou ainda maior. E não incluí nessa lista os temas acerca dos quais eu tenho vontade de adquirir conhecimento sem que, no entanto, tenha alguma idéia de onde ir buscá-lo. Minha própria ignorância sobre a maneira de abordá-los foi considerada por mim como um sinal de que não estou maduro o suficiente para ir atrás deles. A experiência tem me mostrado que, quando chega o momento de mergulhar num novo assunto, as portas se abrem naturalmente para me dar uma idéia de como fazê-lo.

Creio que eu não contei isso a ninguém, mas ao criar este blog eu decidi que faria um esforço para manter, por um ano, o ritmo médio de uma postagem por semana, com tamanho próximo a 10kb (quando digitado no meu editor de textos favorito, o Bloco de notas). Não escrevi em todas as semanas, e em algumas eu postei textos que não foram escritos por mim, mas apenas traduzidos, ou que eram meras adaptações de textos que eu já havia escrito antes. Mas pelo menos posso dizer que, em média, obtive sucesso: este é o qüinquagésimo segundo post, e o ano tem cinqüenta e duas semanas e um dia. Não calculei o desvio padrão, mas ele é menos relevante. O que importa é que fiz isso porque queria saber como é o compromisso de escrever com hora marcada, ainda que não muito bem marcada. G. K. Chesterton, que escreveu uma centena de livros, além de milhares de ensaios para jornais e revistas diversos, também publicou semanalmente um artigo no Illustrated London News durante trinta anos seguidos. Dale Ahlquist, presidente de The American Chesterton Society, lançou o desafio: "Se você não está impressionado, tente fazer isso alguma vez". Eu estava impressionado, e jamais tive qualquer intenção de me equiparar em quantidade ou qualidade a um escritor como Chesterton, sobre quem, aliás, correm lendas de que freqüentemente escrevia um artigo ao mesmo tempo em que ditava outro à sua secretária. Mas achei que o desafio de Ahlquist era uma proposta interessante, e resolvi colocá-la em prática, embora de maneira significativamente suavizada, durante um ano.

Eu não esperava que fosse fácil, mas ainda assim foi mais difícil do que eu supunha. A fim de atingir essa meta auto-imposta (conciliando-a, naturalmente, com as exigências da minha vida pessoal), acabei cometendo uma série de deslizes. Há agora uma quantidade razoável de conversas por e-mail que preciso retomar, abandonei discussões numa comunidade do orkut por vários meses, há textos ainda não comentados nos blogs de alguns amigos, assuntos cujo estudo eu acabei deixando de lado e talvez mais algumas coisas que agora me fogem à memória. Não digo que o blog seja o único culpado em cada um desses casos, mas ele ao menos ajudou a agravar o problema em todos eles. Além disso, o próprio conteúdo do blog não saiu ileso: muitas vezes eu escrevi com pressa, não revisei devidamente o resultado ou não ponderei se a forma sob a qual eu apresentava o assunto era a melhor possível, de modo que, relendo os textos alguns dias ou semanas depois, eu fiquei, em muitos casos, com a desagradável sensação de que poderia ter feito melhor.

Levando em consideração tudo o que eu disse nos cinco parágrafos anteriores, e somando a isso o fato de que o ano que se aproxima, embora incerto, tem grandes chances de me deixar ainda menos tempo para coisas desse tipo, creio que será mais fácil compreender o motivo da minha decisão quanto ao que vou fazer com este blog a partir de agora. Eu gostei muito da experiência que ele me proporcionou ao longo de 2007, não mudei de opinião quanto aos benefícios que ele pode me trazer (e tem trazido), conforme as expliquei no post inaugural, e não gosto nem um pouco da idéia de abandonar essa vida de blogueiro. Mas fatalmente, a fim de dar conta da nova realidade que se impõe sobre mim e que acabo de explicar resumidamente, serei obrigado a mudar minha estratégia com relação ao blog, e um dos efeitos mais previsíveis é que a freqüência das postagens diminuirá sensivelmente, embora a qualidade dos textos, segundo espero, melhore em decorrência disso.

Agora pretendo explicar brevemente qual será a minha política editorial. A estratégia que predominou até aqui, isto é, a de postar textos relativamente curtos dedicados a assuntos independentes, não desaparecerá por completo, mas passará para o segundo plano e aparecerá mais raramente. Na minha lista de assuntos a comentar aqui há cento e setenta e três idéias; dificilmente escreverei todas, mas a maioria provavelmente tomará (ou tomaria) essa forma. (Convém destacar, de passagem, esse meu gosto pela confecção de listas de coisas para fazer; começo a achar que eu faria algumas dessas coisas melhor e mais rapidamente se gastasse menos tempo listando-as.) Não desisti da idéia de escrever sobre esses temas, e pretendo, nos próximos tempos, dar atenção especial àqueles acerca dos quais, ao longo de 2007, prometi escrever e acabei não o fazendo. Apesar da demora, não me esqueci das minhas promessas; tanto é que fiz também uma lista delas, e constatei que vinte e oito futuros posts se enquadram nessa categoria. Não posso prometer que escreverei todos eles em 2008, mas prometo que eles ocuparão lugar especial entre minhas prioridades, na medida do possível.

A parcela principal dos esforços despendidos neste blog, entretanto, será dedicada a um tipo diferente de publicação, que consiste em séries mais ou menos longas (e não necessariamente ininterruptas) de postagens abordando assuntos vastos ou complicados demais para caber numa só. Roubei descaradamente essa idéia do meu amigo André Luiz, que já fazia coisas assim em seu blog muito antes que eu pensasse em criar o meu. A vantagem óbvia desse procedimento está no fato de que é a melhor maneira, quando não a única possível, de dar um tratamento minimamente apropriado a certos assuntos. A abordagem de vários deles está nos meus planos há um bom tempo, mas, pelo fato mesmo de que escrever sobre eles é mais trabalhoso, acabo sempre, por preguiça ou por pressa (em virtude do compromisso auto-imposto a que aludi anteriormente), deixando-os sistematicamente para depois e falando de algo mais fácil. Não me arrependo do que fiz até aqui, mas esse é um problema adicional a indicar a necessidade de mudanças.

Entretanto, o parágrafo acima pode dar a entender, falsamente, que essas séries de posts que agora estou planejando têm apenas o objetivo de divulgar e revisar conhecimentos já adquiridos e possuídos por mim. A verdade, porém, é que a maioria dessas planejadas seqüências vincula-se sobretudo ao que eu disse nos parágrafos iniciais. Dos cinqüenta e nove temas a estudar predominantemente fora dos livros, por exemplo, muitos provavelmente resultarão em séries de postagens neste blog, seja por eu acreditar que seus resultados serão úteis ou interessantes aos leitores, seja porque o simples fato de escrever a respeito facilitará meu próprio entendimento dos assuntos em pauta. O mesmo se aplica a boa parte das vinte e três categorias de livros que mencionei. Em alguns casos, escreverei e publicarei minhas conclusões e descobertas na medida em que as for atingindo; em outros, preferirei concluir o estudo do assunto antes de dizer qualquer coisa a respeito dele. Alguns temas têm um roteiro de estudos mais ou menos previsível e bem definido, enquanto outros podem me levar a lugares que nem imagino no momento.

Enfim, de agora em diante não haverá regras de qualquer espécie. Usarei este blog como instrumento de aprendizado, como fiz até aqui, mas de maneira a torná-lo mais facilmente adaptável às necessidades de cada momento. E se tudo der certo, é claro, isso também resultará em maior benefício para os eventuais leitores.

Um comentário:

Anônimo disse...

Gostei muito desse post e seu blog é muito interessante, vou passar por aqui sempre =) Depois dá uma passada lá no meu site, que é sobre o CresceNet, espero que goste. O endereço dele é http://www.provedorcrescenet.com . Um abraço.