Este post encerra a transcrição dos trechos interessantes do livro Diário de viagem, de Albert Camus.
Em Salvador:
"Três horas de voo, e depois veem-se surgir, sobre uma imensidão, colinas curtas cobertas de neve. Ao menos, é a impressão que me dá essa areia branca, muito frequente aqui, e cujas vagas imaculadas parecem cercar a Bahia com um deserto intacto. Do aeroporto até a cidade, seis quilômetros de estrada em ziguezague, entre as bananeiras e uma vegetação frondosa. A terra é totalmente vermelha. Bahia, onde só se veem negros, parece-me uma imensa casbah fervilhante, miserável, suja e bela. Mercados imensos, feitos de velas esburacadas e de tábuas velhas, de velhas casas baixas, caiadas de vermelho, verde-maçã, azul, etc. Almoço no porto. Grandes barcos de velas latinas, ocre e azul, descarregando cachos de bananas. Comemos pratos tão apimentados que fariam andar paralíticos. A baía que vejo também da janela do meu hotel estende-se, redonda e pura, cheia de um estranho silêncio, sob o céu cinzento, enquanto as velas paradas que nela se veem parecem aprisionadas num mar subitamente imobilizado. Prefiro essa baía à do Rio, muito espetacular para o meu gosto. Esta, pelo menos, tem uma medida e uma poesia. [...] Visita às igrejas. São as mesmas de Recife, se bem que tenham mais fama. [...] É sufocante. Mas esse barroco harmonioso repete-se muito. Finalmente, é a única coisa a ser vista neste país, e isso se vê depressa. Resta a vida verdadeira. Mas sobre esta terra imensa, que tem a tristeza dos grandes espaços, a vida é no nível do chão, e seriam necessários muitos anos para a ela integrar-se. Será que sinto vontade de passar alguns anos no Brasil? Não."
De volta ao Rio:
"A noitada termina com música brasileira, que me parece qualquer outra. Importante, contudo, é que o Brasil seja o único país de população negra que produz canções sem parar. O arremate final é um frevo, dança de Pernambuco, da qual participa a própria plateia, e que é realmente a cantoria mais desenfreada que já vi. Encantadora."
Viagem pelo interior do Rio, seguida da volta à capital:
"Weekend em casa de Cl. em Teresópolis. 150 quilômetros do Rio, nas montanhas. A estrada é bela, sobretudo entre Petrópolis e Teresópolis. De vez em quando, um ipê coberto de flores amarelas desponta numa curva, diante de um horizonte de montanhas que se sucedem até o horizonte. Compreende-se ainda aqui o que me impressionava no avião, quando sobrevoava este país. Imensas áreas virgens e solitárias junto às quais as cidades, agarradas ao litoral, são apenas pontos sem importância. A qualquer momento, este enorme continente sem estradas, todo entregue à selvageria natural, pode voltar-se e recuperar essas cidades falsamente luxuosas. O fim de semana se passa em passeios, banhos e pingue-pongue. Respiro, enfim, neste campo. E o ar, a oitocentos metros, me faz avaliar melhor o clima do Rio, realmente cansativo. Quando descemos, no domingo à noite, é sem alegria que reencontro a cidade. Aliás, sou acolhido diante da Embaixada por uma dessas cenas por demais frequentes no Rio. De novo, uma mulher estendida, sangrando, diante de um ônibus. E uma multidão que olha em silêncio, sem prestar-lhe socorro. Esse costume bárbaro me revolta. Bem mais tarde, ouço a sirene de uma ambulância. Durante todo esse tempo, deixaram morrer essa infeliz em meio aos gemidos. Em compensação, dão demonstrações de adorar crianças."
"Perseguido, na verdade, nessa gloriosa luz do Rio, pela ideia do mal que se faz aos outros a partir do instante em que se olha para eles. Durante muito tempo, fazer sofrer me foi indiferente, é preciso confessá-lo. Foi o amor que me esclareceu quanto a isso. Agora, não consigo mais suportá-lo. De certa forma, é melhor matar que fazer sofrer. O que me pareceu muito claro ontem, afinal, é que eu desejaria morrer."
Em São Paulo:
"São Paulo, e a noite cai rapidamente, enquanto os cartazes luminosos se acendem um por um, no topo dos arranha-céus espessos, enquanto das palmeiras reais que se elevam entre os edifícios chega um canto ininterrupto, vindo dos milhares de pássaros que saúdam o fim do dia, encobrindo as buzinas graves que anunciam a volta dos homens de negócio. Jantar com Oswald de Andrade, personagem notável (a desenvolver). Seu ponto de vista é que o Brasil é povoado de primitivos e que é melhor assim. A cidade de São Paulo, cidade estranha, Oran desmedida. Esqueço totalmente de anotar o que mais me sensibilizou. Foi uma transmissão de rádio de São Paulo, em que pessoas pobres vêm ao microfone para expor a necessidade em que se encontram momentaneamente. Naquela noite, um grande negro, vestido de maneira pobre e com uma menina de cinco meses no colo, a mamadeira no bolso, veio explicar, com simplicidade, que, abandonado pela mulher, procurava alguém para cuidar da criança sem tirá-la dele. [...] Cinco minutos após o fim da transmissão, o telefone toca de forma ininterrupta. Todos se oferecem ou oferecem alguma coisa. [...] E eis o desfecho: um negro grande, mais idoso, entra no escritório semidespido. Estava dormindo, e a mulher, que ouvia o programa, acordou-o e disse: 'Vá buscar a criança'."
"Andrade me expõe sua teoria: a antropofagia como visão de mundo. Diante do fracasso de Descartes e da ciência, retorno à fecundação primitiva: o matriarcado e a antropofagia. O primeiro bispo que desembarca na Bahia tendo sido comido por lá, Andrade datava sua revista como do ano 317 da deglutição do bispo Sardinha (pois o bispo chamava-se Sardinha)."
Viagem ao litoral sul paulista:
"Descontando as paradas, levamos dez horas para fazer os trezentos quilômetros que nos separam de São Paulo. [...] Exaustos, vamos ao clube. O clube é uma espécie de bistrô, no segundo andar, onde encontramos outras autoridades, que nos cobrem de atenções. Observo, mais uma vez, a refinada polidez brasileira, talvez um pouco cerimoniosa, mas que, mesmo assim, é melhor que a grosseria europeia. Sanduíche e cerveja. Mas um grandalhão desengonçado, que mal se aguenta nas pernas, tem a singular ideia de vir pedir meu passaporte. Mostro-o, e ele parece dizer-me que não está em ordem. Cansado, mando-o às favas. As autoridades, indignadas, reúnem-se numa espécie de conselho, findo o qual vêm dizer-me que vão botar esse policial (pois é um policial) na prisão e que eu tenho de escolher a forma de puni-lo. Suplico-lhes que o deixem em liberdade. Explicam-me que a honra tão grande que faço a Iguape não foi reconhecida por esse mal-educado e que é preciso uma sanção para essa falta de modos. Repito o que dissera antes. Mas querem homenagear-me dessa maneira. A coisa vai durar até a noite seguinte, quando finalmente descubro a fórmula, pedindo que me façam o favor pessoal e excepcional de poupar esse tonto. Todos surpreendem-se diante do meu cavalheirismo e dizem que tudo será feito conforme a minha vontade."
"Vi beija-flores. E, uma vez mais, durante horas e horas, olho para esta natureza monótona e estes espaços imensos; não se pode dizer que sejam belos, mas colam-se à alma de uma forma insistente. País onde as estações se confundem umas com as outras; onde a vegetação inextricável torna-se disforme; onde os sangues misturaram-se a tal ponto que a alma perdeu seus limites. Um marulhar pesado, a luz esverdeada das florestas, o verniz de poeira vermelha que cobre todas as coisas, o tempo que se derrete, a lentidão da vida rural, a excitação breve e insensata das grandes cidades - é o país da indiferença e da exaltação. Não adianta o arranha-céu; ele ainda não conseguiu vencer o espírito da floresta, a imensidão, a melancolia. São os sambas, os verdadeiros, que exprimem melhor o que quero dizer."
Em Porto Alegre:
"Em Porto Alegre, desembarco sob um frio cortante. [...] A luz é muito bela. A cidade, feia. Apesar de seus cinco rios. Essas ilhotas de civilização são frequentemente horrendas."
No Uruguai:
"À acolhida das autoridades francesas de Montevidéu falta calor. A data de minhas conferências foi mudada várias vezes. Deixaram até de reservar um quarto para mim. [...] Obrigado a confessar a mim mesmo que, pela primeira vez na vida, estou em pleno conflito psicológico. Este duro equilíbrio que a tudo resistiu desmoronou, apesar de todos os meus esforços. Dentro de mim estão as águas esverdeadas em que passam formas vagas, em que se dilui minha energia. É o inferno, de certa forma, esta depressão. Se as pessoas que me recebem aqui sentissem o esforço que faço para parecer normal, fariam ao menos o esforço de um sorriso."
Na Argentina:
"De manhã, Buenos Aires. Enorme amontoado de casas que se aproximam. [...] Volta pela cidade - de uma feiúra rara."
De volta ao Rio:
"O avião parte às onze horas. Sob um céu terno, arejado, nublado, Montevidéu exibe suas praias - cidade encantadora, em que tudo pressupõe a felicidade - e a felicidade sem espírito. [...] Às cinco horas, sobrevoamos o Rio e, na descida, sou acolhido por esse ar espesso e úmido, com consistência de algodão hidrófilo, do qual já me esquecera e que é típico do Rio. Ao mesmo tempo, os papagaios tagarelas e multicoloridos e um pavão de voz desafinada."
"Às 13h30min, Pedrosa e sua mulher vêm buscar-me para ver as pinturas dos loucos, no subúrbio, num hospital de linhas modernas e com uma sujeira antiga. O coração se confrange vendo os rostos por trás das grades das jaulas. [...] Fico apavorado ao reconhecer, num jovem médico psiquiatra do estabelecimento, o rapaz que no início me fez a pergunta mais tola que já me fizeram em toda a América do Sul. É ele quem decide o destino desses infelizes."
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Em Salvador:
"Três horas de voo, e depois veem-se surgir, sobre uma imensidão, colinas curtas cobertas de neve. Ao menos, é a impressão que me dá essa areia branca, muito frequente aqui, e cujas vagas imaculadas parecem cercar a Bahia com um deserto intacto. Do aeroporto até a cidade, seis quilômetros de estrada em ziguezague, entre as bananeiras e uma vegetação frondosa. A terra é totalmente vermelha. Bahia, onde só se veem negros, parece-me uma imensa casbah fervilhante, miserável, suja e bela. Mercados imensos, feitos de velas esburacadas e de tábuas velhas, de velhas casas baixas, caiadas de vermelho, verde-maçã, azul, etc. Almoço no porto. Grandes barcos de velas latinas, ocre e azul, descarregando cachos de bananas. Comemos pratos tão apimentados que fariam andar paralíticos. A baía que vejo também da janela do meu hotel estende-se, redonda e pura, cheia de um estranho silêncio, sob o céu cinzento, enquanto as velas paradas que nela se veem parecem aprisionadas num mar subitamente imobilizado. Prefiro essa baía à do Rio, muito espetacular para o meu gosto. Esta, pelo menos, tem uma medida e uma poesia. [...] Visita às igrejas. São as mesmas de Recife, se bem que tenham mais fama. [...] É sufocante. Mas esse barroco harmonioso repete-se muito. Finalmente, é a única coisa a ser vista neste país, e isso se vê depressa. Resta a vida verdadeira. Mas sobre esta terra imensa, que tem a tristeza dos grandes espaços, a vida é no nível do chão, e seriam necessários muitos anos para a ela integrar-se. Será que sinto vontade de passar alguns anos no Brasil? Não."
De volta ao Rio:
"A noitada termina com música brasileira, que me parece qualquer outra. Importante, contudo, é que o Brasil seja o único país de população negra que produz canções sem parar. O arremate final é um frevo, dança de Pernambuco, da qual participa a própria plateia, e que é realmente a cantoria mais desenfreada que já vi. Encantadora."
Viagem pelo interior do Rio, seguida da volta à capital:
"Weekend em casa de Cl. em Teresópolis. 150 quilômetros do Rio, nas montanhas. A estrada é bela, sobretudo entre Petrópolis e Teresópolis. De vez em quando, um ipê coberto de flores amarelas desponta numa curva, diante de um horizonte de montanhas que se sucedem até o horizonte. Compreende-se ainda aqui o que me impressionava no avião, quando sobrevoava este país. Imensas áreas virgens e solitárias junto às quais as cidades, agarradas ao litoral, são apenas pontos sem importância. A qualquer momento, este enorme continente sem estradas, todo entregue à selvageria natural, pode voltar-se e recuperar essas cidades falsamente luxuosas. O fim de semana se passa em passeios, banhos e pingue-pongue. Respiro, enfim, neste campo. E o ar, a oitocentos metros, me faz avaliar melhor o clima do Rio, realmente cansativo. Quando descemos, no domingo à noite, é sem alegria que reencontro a cidade. Aliás, sou acolhido diante da Embaixada por uma dessas cenas por demais frequentes no Rio. De novo, uma mulher estendida, sangrando, diante de um ônibus. E uma multidão que olha em silêncio, sem prestar-lhe socorro. Esse costume bárbaro me revolta. Bem mais tarde, ouço a sirene de uma ambulância. Durante todo esse tempo, deixaram morrer essa infeliz em meio aos gemidos. Em compensação, dão demonstrações de adorar crianças."
"Perseguido, na verdade, nessa gloriosa luz do Rio, pela ideia do mal que se faz aos outros a partir do instante em que se olha para eles. Durante muito tempo, fazer sofrer me foi indiferente, é preciso confessá-lo. Foi o amor que me esclareceu quanto a isso. Agora, não consigo mais suportá-lo. De certa forma, é melhor matar que fazer sofrer. O que me pareceu muito claro ontem, afinal, é que eu desejaria morrer."
Em São Paulo:
"São Paulo, e a noite cai rapidamente, enquanto os cartazes luminosos se acendem um por um, no topo dos arranha-céus espessos, enquanto das palmeiras reais que se elevam entre os edifícios chega um canto ininterrupto, vindo dos milhares de pássaros que saúdam o fim do dia, encobrindo as buzinas graves que anunciam a volta dos homens de negócio. Jantar com Oswald de Andrade, personagem notável (a desenvolver). Seu ponto de vista é que o Brasil é povoado de primitivos e que é melhor assim. A cidade de São Paulo, cidade estranha, Oran desmedida. Esqueço totalmente de anotar o que mais me sensibilizou. Foi uma transmissão de rádio de São Paulo, em que pessoas pobres vêm ao microfone para expor a necessidade em que se encontram momentaneamente. Naquela noite, um grande negro, vestido de maneira pobre e com uma menina de cinco meses no colo, a mamadeira no bolso, veio explicar, com simplicidade, que, abandonado pela mulher, procurava alguém para cuidar da criança sem tirá-la dele. [...] Cinco minutos após o fim da transmissão, o telefone toca de forma ininterrupta. Todos se oferecem ou oferecem alguma coisa. [...] E eis o desfecho: um negro grande, mais idoso, entra no escritório semidespido. Estava dormindo, e a mulher, que ouvia o programa, acordou-o e disse: 'Vá buscar a criança'."
"Andrade me expõe sua teoria: a antropofagia como visão de mundo. Diante do fracasso de Descartes e da ciência, retorno à fecundação primitiva: o matriarcado e a antropofagia. O primeiro bispo que desembarca na Bahia tendo sido comido por lá, Andrade datava sua revista como do ano 317 da deglutição do bispo Sardinha (pois o bispo chamava-se Sardinha)."
Viagem ao litoral sul paulista:
"Descontando as paradas, levamos dez horas para fazer os trezentos quilômetros que nos separam de São Paulo. [...] Exaustos, vamos ao clube. O clube é uma espécie de bistrô, no segundo andar, onde encontramos outras autoridades, que nos cobrem de atenções. Observo, mais uma vez, a refinada polidez brasileira, talvez um pouco cerimoniosa, mas que, mesmo assim, é melhor que a grosseria europeia. Sanduíche e cerveja. Mas um grandalhão desengonçado, que mal se aguenta nas pernas, tem a singular ideia de vir pedir meu passaporte. Mostro-o, e ele parece dizer-me que não está em ordem. Cansado, mando-o às favas. As autoridades, indignadas, reúnem-se numa espécie de conselho, findo o qual vêm dizer-me que vão botar esse policial (pois é um policial) na prisão e que eu tenho de escolher a forma de puni-lo. Suplico-lhes que o deixem em liberdade. Explicam-me que a honra tão grande que faço a Iguape não foi reconhecida por esse mal-educado e que é preciso uma sanção para essa falta de modos. Repito o que dissera antes. Mas querem homenagear-me dessa maneira. A coisa vai durar até a noite seguinte, quando finalmente descubro a fórmula, pedindo que me façam o favor pessoal e excepcional de poupar esse tonto. Todos surpreendem-se diante do meu cavalheirismo e dizem que tudo será feito conforme a minha vontade."
"Vi beija-flores. E, uma vez mais, durante horas e horas, olho para esta natureza monótona e estes espaços imensos; não se pode dizer que sejam belos, mas colam-se à alma de uma forma insistente. País onde as estações se confundem umas com as outras; onde a vegetação inextricável torna-se disforme; onde os sangues misturaram-se a tal ponto que a alma perdeu seus limites. Um marulhar pesado, a luz esverdeada das florestas, o verniz de poeira vermelha que cobre todas as coisas, o tempo que se derrete, a lentidão da vida rural, a excitação breve e insensata das grandes cidades - é o país da indiferença e da exaltação. Não adianta o arranha-céu; ele ainda não conseguiu vencer o espírito da floresta, a imensidão, a melancolia. São os sambas, os verdadeiros, que exprimem melhor o que quero dizer."
Em Porto Alegre:
"Em Porto Alegre, desembarco sob um frio cortante. [...] A luz é muito bela. A cidade, feia. Apesar de seus cinco rios. Essas ilhotas de civilização são frequentemente horrendas."
No Uruguai:
"À acolhida das autoridades francesas de Montevidéu falta calor. A data de minhas conferências foi mudada várias vezes. Deixaram até de reservar um quarto para mim. [...] Obrigado a confessar a mim mesmo que, pela primeira vez na vida, estou em pleno conflito psicológico. Este duro equilíbrio que a tudo resistiu desmoronou, apesar de todos os meus esforços. Dentro de mim estão as águas esverdeadas em que passam formas vagas, em que se dilui minha energia. É o inferno, de certa forma, esta depressão. Se as pessoas que me recebem aqui sentissem o esforço que faço para parecer normal, fariam ao menos o esforço de um sorriso."
Na Argentina:
"De manhã, Buenos Aires. Enorme amontoado de casas que se aproximam. [...] Volta pela cidade - de uma feiúra rara."
De volta ao Rio:
"O avião parte às onze horas. Sob um céu terno, arejado, nublado, Montevidéu exibe suas praias - cidade encantadora, em que tudo pressupõe a felicidade - e a felicidade sem espírito. [...] Às cinco horas, sobrevoamos o Rio e, na descida, sou acolhido por esse ar espesso e úmido, com consistência de algodão hidrófilo, do qual já me esquecera e que é típico do Rio. Ao mesmo tempo, os papagaios tagarelas e multicoloridos e um pavão de voz desafinada."
"Às 13h30min, Pedrosa e sua mulher vêm buscar-me para ver as pinturas dos loucos, no subúrbio, num hospital de linhas modernas e com uma sujeira antiga. O coração se confrange vendo os rostos por trás das grades das jaulas. [...] Fico apavorado ao reconhecer, num jovem médico psiquiatra do estabelecimento, o rapaz que no início me fez a pergunta mais tola que já me fizeram em toda a América do Sul. É ele quem decide o destino desses infelizes."
6 comentários:
Ele escreve: "Mas um grandalhão desengonçado, que mal se aguenta nas pernas, tem a singular ideia de vir pedir meu passaporte. Mostro-o, e ele parece dizer-me que não está em ordem. Cansado, mando-o às favas".
Você escreve "...um sujeito inteligente e sensível, e ao menos transmite a impressão de ser honesto e íntegro".hahahahahaha
Eu escrevo: os dois estão de sacanagem comigo, né? Que espécime mais arrogante! Mas é a pura realidade. As autoridades brasileiras continuam as mesmas. tsic tsic tsic...
Um beijo e uma boa noite.
Cara Novinha, antes de tudo:
hahahahahaha
Continuando, permita que eu me explique: quando eu disse que Camus é inteligente, sensível, honesto e íntegro, estava apenas querendo dizer que ele tem certas percepções muito acuradas sobre a realidade e as outras pessoas, que se expressa com clareza e beleza, que acredita de fato em tudo o que diz e se compromete com isso.
De fato, não se segue daí que ele seja educado, humilde, alegre, leve ou bem-humorado. Ele não era nada disso, sem dúvida; ou, se era, não estava num bom momento quando escreveu esse livro. Mas isso, para quem está apenas lendo o livro, como eu, só o torna mais engraçado. hehe
Beijão!
rsrsrs
André,
É melhor você não levar muito a sério o que quer que seja que eu comente por aqui. rs rs rs rs
É a sua opção pelas generalidades... e eu me apego demais aos detalhes. Às vezes, pequenos indícios levam a grandes conclusões. Mas de que adiantam os detalhes se você não tem a visão do todo? E é você quem está lendo o livro, oras! (O que também não deixa de ser apenas um fragmento, né?)
: )
"Um retrato pintado com a alma é um retrato, não do modelo mas do artista" (Oscar Wild)
É incrível como posso ler a sua alma no seu blog. É uma leitura que me agrada muito.
Um beijo!
Oi, MnP!
André me chamou para ler o que você tinha comentado aqui. Bom, eis minha apreciação. Vou te dizer o que digo para as pessoas fofas: se você continuar assim, vai esgotar o estoque de fofura no mundo! Vai com calma! Hehehehe!
Também gosto muito de ter ler!
Beijos!
Cara Novinha, não se preocupe, eu entendi a piada. hehe De fato enfatizei demais as qualidades do sujeito no comentário inicial. E, agora que fiz três posts com trechos do livro - e o livro é pequeno -, minha vantagem sobre você já não é tão grande. Os trechos que trasncrevi são bem representativos da essência da obra, creio eu.
Quanto a mim, acho que de fato me interesso pelos detalhes na medida em que permitem discernir padrões mais amplos. As conexões entre as coisas me interessam muito. Mas, quando começo a me aprofundar no estudo de algo, sempre chega um momento em que me dou por satisfeito e volto minha atenção para outra coisa, ao menos por um tempo.
Suas palavras finais foram muito amáveis. De fato, eu escrevo com a alma, ao menos quando não é por obrigação. (Quem ler minha dissertação só vai encontrar "alma" na dedicatória e nos agradecimentos - as partes não-obrigatórias. hehehe) Obrigado pela gentileza. Espero que minha alma não a decepcione. hehe
Beijos!
“Quanto a mim, acho que de fato me interesso pelos detalhes na medida em que permitem discernir padrões mais amplos. As conexões entre as coisas me interessam muito. Mas, quando começo a me aprofundar no estudo de algo, sempre chega um momento em que me dou por satisfeito e volto minha atenção para outra coisa, ao menos por um tempo”.
É André, eu sei... Isso é bem típico dos homens mesmo (risos).
Oi Norma, é sempre um prazer quando você aparece!
Um abração nos dois!
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