O filólogo Victor Klemperer (1881-1960) foi um dos judeus alemães que
sobreviveram ao regime nacional-socialista. Ele não só deixou registros
históricos e pessoais valiosos, como seus Diários,
mas também, conjugando seu conhecimento acadêmico à experiência
existencial de viver constantemente perseguido e marginalizado por um
governo totalitário, elaborou uma análise do uso da linguagem pelo
Estado nessas condições: A linguagem do Terceiro Reich, publicada em 1947.
Klemperer era um homem sensível e um observador arguto. Acredito que
poucos conheceram como ele, por vias teóricas ou práticas, os usos
perversos da linguagem posta a serviço da política.
Eis um homem que tem autoridade para falar sobre as relações entre
linguagem e mentira. Por isso, à primeira vista talvez pareça estranho
que seu juízo tenha sido este: “A linguagem revela. Por vezes, alguém
procura esconder a verdade por meio da linguagem. Mas a linguagem não
mente.”
Há nessas palavras uma dimensão teológica oculta da qual o próprio Klemperer, como judeu convertido a um protestantismo teologicamente liberal e comprometido com o iluminismo, pode muito bem ter deixado de perceber: a linguagem foi criada por Deus para expressar a verdade, de modo que a mentira é um parasita pernicioso, mas nunca de todo bem-sucedido.
Ninguém ignora que o terreno do debate político é pródigo de mentiras completas, meias-verdades, confusões e ambiguidades, tanto propositais quanto inconscientes. É importante que o cristão aprenda a evitar tais armadilhas. Diante disso, a sentença de Klemperer se relaciona de várias maneiras ao espírito do presente ensaio, cujo propósito não vai além de uma introdução à tarefa de combater alguns equívocos cometidos com frequência na reflexão política. O método consiste em problematizar, a título de exemplo, dois pares de palavras-chave potencialmente enganadoras, mostrando de que modos podem ser (e são) usadas para ocultar a verdade ao invés de esclarecê-la. Ao mesmo tempo, pretendo mostrar como tais usos podem revelar algumas verdades que são, em geral, pouco notadas.
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